Não quero o Duque/ I don't want the Duke
Eu não sou casada e nem tenho roupa/previsão para tal evento tão cedo, mas eu fico sonhando acordada, às vezes, com a filha que quero ter, inclusive ela já tem até nome. Quem sabe um dia ela leia este texto, então filha, Ana Clara, mamãe sonha com você, viu? (Riso emocionado). Também já fico sonhando com o tipo de criação que gostaria de dar á ela, coisas que me faltaram ou que eu gostaria de ter tido, sem culpar minha mãe por isso, porque cada geração é uma geração. Inclusive isso é bastante abordado na série, onde vemos que o papel mais importante para a mulher naquela época era arrumar um casamento para ter conforto e estabilidade. Voltando a falar do que não tive, algo que me prejudicou por muito tempo e ainda é um processo dentro de mim, é a construção do meu "Príncipe (ou Duque?)" aquela ideia do que seria um marido ideal.
Talvez você não faça parte das estatísticas do abandono paterno, e se não fizer, que sorte a sua. Eu, junto de milhares de pessoas neste mundo, nunca tive uma boa relação e nem referência paterna, o que me causou/causa bastante dificuldades em algumas áreas e por consequência trago marcas ou um termo que eu mais comumente uso e quem me conhece sabe: sequelas. Sim, querido leitor, eu sou bem sequelada (rindo de nervoso) e isso não é exatamente um problema para eu assumir. Não sou cientista, nem psicóloga, nem filósofa. Não quero estabelecer teses, fornecer causas/soluções com simpleza ou ditar verdades absolutas, mas vou compartilhar a minha história e perspectiva.
Eu cresci com essa "ausência" paterna e eu acredito que essa falta nos leva a, no mínimo, dois extremos: muita carência ou falta de afeição. Percebi que eu fui para a extrema carência, e ao longo da minha jornada eu olho para trás e vejo o quanto projetei esta falta idealizando um amor e uma pessoa que tirei dos contos de fadas e das comédias românticas, criando padrões que tomei por verdades e que me impediram, muitas vezes, de enxergar além de pessoas "fora" desse padrão que eu construí (faz sentido? espero que sim! hahah). Também quase caí no conto do "amor que salva", de me comprometer com alguém querendo que ela fosse outra pessoa, tentando mudá-lo e acreditando que se ele realmente me amasse, mudaria só por mim. Olha, quase 30 anos nas costas, seria grande um livro para relatar as minhas (des)aventuras amorosas, mas enfim, o que o Duque tem a ver com isso? Eu olhei pro Duque e gritei: sequelado! Como me identifiquei com ele! Problemas paternos, dificuldades nos relacionamentos interpessoais (porque não é só com a Daphne, repare) e comportamentos que ele, como um homem, escolheu para aliviar as mazelas e os fantasmas. Ele é lindo? É. Mas, a beleza está beeem longe de sustentar um casamento e as dificuldades que ele traz.
Olha, eu falei da Ana Clara lá em cima porque se ela tivesse aqui comigo, a gente ia ter uma boa conversa depois da gente maratonar juntas a série. Eu iria tentar desconstruir essa ideia de "amor que salva" e de que "o homem muda" por amor. Não é que eu não acredite em mudanças das pessoas, ou que não acredite no amor. Mas, o personagem do Duque é claramente alguém cheio de traumas e sequelas (e com razão), feridas mal curadas e ideias que ele construiu na mente que não seria a Daphne e o amor deles que o fariam se curar. Olha, nem a religião cura algumas coisas. E quando eu falo religião eu to falando de religião que é bem diferente de DEUS, porque eu tenho fé sim que se uma pessoa tem fé e busca mudanças quando a PRÓPRIA pessoa entendeu a necessidade e ESCOLHEU por si mesma mudar, por ELA MESMA e mais ninguém, aí sim eu acredito em uma mudança. Até porque seria muito injusto com a Daphne fazer o papel de "salvadora". Não estamos aqui para "salvar" ninguém, eu acredito em um só Salvador, mas isso é pauta para outro texto.
Então, querido leitor, não quero o Duque de Hastings, muito obrigada! Não quero porque não me pareceu que ele quis mudar por si mesmo, foi mais por pressão (e há até a polêmica do estupro que super cabe nesta discussão) e essas coisas trazem mais transtornos e desequilíbrios do que relacionamentos saudáveis. É claro que essa parte não é bem demonstrada na série e o nosso coração romântico quer acreditar que ele escolheu se dar uma chance e ser feliz, mas se fosse a vida real, casar com este tipo de expectativa é muito perigoso e eu tenho muitos exemplos ruins em minha vida para enxergar de outra forma. Esse tema é mais comum em histórias de amor que a gente lê/vê por aí do que parecem e com a minha maturidade eu tenho aprendido a separar o entretenimento da realidade. Comédias românticas ainda são minha classe de filme favorita. Eu vou sim sempre gostar dos filmes de princesas e dos finais felizes. Eu vou sim assistir um monte de filmes desses com a Ana Clara se ela vier a existir e se ela gostar de filmes assim (oi Deus, sou eu de novo, se ela não gostar de filmes românticos, que não seja de terror porque Você sabe que eu odeio! obrigada!). Mas, não me deixo enganar mais, cada história dessas hoje e sempre ficarão no devido lugar: na fantasia dos contos de fadas.
PS: Este texto tem caráter reflexivo e estou aberta a novos pontos de vista.
"Aqueles que não podem mudar a própria mente não podem mudar nada" - George Bernard Shaw
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As a good romantic when I read the synopsis of Netflix's Bridgerton series I soon marathoned it in just one day (and watched it again with a friend). In fact, if you didn't watch it, then don't keep reading because it may contain spoilers and you'll judge the character through my lenses. The series corresponds to everything that a romantic dreamy person likes to see (it may contain a slight spoiler) a girl who dreams of marrying for love, a handsome guy with a kind of bad boy vibes who struggles to not surrender to love, but as every happy ending, he finally surrenders. This series is already one of the biggest hits of Netflix and, therefore, left thousands of people dreaming with their own Duke of Hastings. This text is not about the actor Rege-Jean Page (who, by the way, what a man!), but about his illustrious character who is said he'd played perfectly: Simon. From this one I would only want distance.
I'm not married and I don't even have predictions for such an event so early but I keep daydreaming, sometimes, with the daughter I want to have and she already has a name. Maybe one day she will read this text, so daughter, Ana Clara, mommy dreams about you, ok? (Emotional laughter). I am also dreaming about the kind of creation that I would like to give her, things that I lacked or that I would have liked to have, without blaming my mother for it, because each generation is a generation. This is even discussed in the series, where we see that the most important role for women at that time was to arrange a marriage for comfort and stability. Going back to talking about what I didn't have, something that has harmed me for a long time and is still a process inside me, it's the construction of my "Prince (or Duke?)" that idea of what an ideal husband would be.
Maybe you are not part of the statistics of parental abandonment, and if you are not, how lucky you are. I along with thousands of people in this world have never had a good relationship or a father's reference, which caused/causes quite difficulties in some areas and consequently I bring marks or a term that I most commonly use: sequels. Yes, dear reader, I am quite sequeled (laughing nervously) and that is not exactly a problem for me to assume. I'm not a scientist, or a psychologist, or a philosopher. I don't want to establish theses, simply provide causes/solutions or dictate absolute truths, but I will share my story and perspective.
I grew up with this paternal "absence" and I believe that this lack leads us to at least two extremes: too much lack or no affection at all. I realized that I went to extreme need of love and throughout my journey I look back and see how much I projected this lack by idealizing a love and a person that I took out of fairy tales and rom-coms, creating patterns that I took for truths and that prevented me, many times, to see beyond people "outside" this pattern that I built (does it make sense? I hope so! hahah). I also almost fell into the tale of "love that saves", of committing myself to someone wanting him to be someone else, trying to change him and believing that if he really loved me, he would change just for me. Look, I'm almost 30 years old, it would be a great book to report my love misfortunes, but anyway, what does the Duke have to do with it? I looked at the Duke and shouted: sequeled! How I identified myself with him! Father problems, difficulties in interpersonal relationships (because it's not just Daphne, observe it) and behaviors that he as a man chose to alleviate the ills and ghosts. Is he beautiful? YES. But beauty is far from sustaining a marriage and the difficulties it brings.
Look, I talked about Ana Clara up there because if she was here we would have a good conversation after we marathon the series together. I would try to deconstruct this idea of "love that saves" and that "man changes" for love. It's not that I don't believe in people's changes nor that I don't believe in love. But the Duke's character is clearly someone full of trauma (and for a good reason) with badly healed wounds and ideas that he built in his mind that it wouldn't be Daphne and their love that would make him heal. Look, even religion doesn't cure some things. And when I say religion I am talking about religion that is very different from GOD, because I do have faith that if a person has faith and seeks change when the OWN person understood the need and CHOOSE for himself/herself to change, for THEMSELF and no one else, then I believe in a change. Especially because it would be very unfair to Daphne to play the role of "savior". We are not here to "save" anyone, I believe in just one Savior, but that is an subject for another text.
So, dear reader, I don't want the Duke of Hastings, thank you very much! I don't want him because it didn't seem to me that he wanted to change by his own mind. It was more from pressure (and there is even the rape controversy that really fits in this discussion) and these things bring more upsets and imbalances than healthy relationships. Of course, this part is not well demonstrated in the series and our romantic heart wants to believe that he chose to take a chance and be happy, but if it were real life, marrying with this kind of expectation is very dangerous and I have many bad examples in my life to see it differently. This theme is more common in love stories that we read /see around than they seem and with my maturity I have learned to separate entertainment from reality. Romantic comedies are still my favorite movie class. I will always like princesses and happy endings. I will watch a lot of these films with Ana Clara if she comes into existence and if she likes films like this (hi God, it's me again, if she doesn't like romantic films, please make she likes something other than horror because You know that I hate! thanks!). But, I am not fooled anymore, every story like this today and always will stay in the right place: in the fantasy of fairy tales.
PS: This text is supposed to be reflective and I am open to new points of view.
"Those who cannot change their minds cannot change anything.” - George Bernard Shaw
Carol, precisamos muito tomar um café.. 🥰
ResponderExcluirVamoos! me chama no Instagram e nós iremos <3
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