A viagem de um barquinho


Há uns dias, o professor do curso pediu como lição de casa que levássemos para a aula seguinte um livro infantil com uma forte mensagem. No momento em que ele disse isso, soube em meu coração qual livro eu levaria: a viagem de um barquinho, de Sylvia Orthof¹. Quando eu era pequena, minha mãe costumava levar bastante livros para casa para lermos juntas (eu, ela e minha irmã). Mas, de longe, "a viagem de um barquinho" é o mais especial. 

Em resumo, o livro conta a história de um menino fez um barquinho de papel. Apareceu uma lavadeira que não tinha água para lavar sua roupa, então, de dentro da sua trouxa, puxou um rio de pano. O barquinho viu o rio inventado e fugiu. Este livro conta a história da lavadeira e do menino Chico Eduardo em busca do barquinho. O livro é todo feito de versos rimados, que torna muito mais mágica a leitura, e além de tudo a lavadeira se chama Elisete, o nome da minha mãe! Escrito do jeitinho que se escreve o nome dela. Esse livro estava escrito no meu destino...

Era uma vez um menino
chamado Chico Eduardo
que perdeu seu barquinho
feito de papel dobrado.
Seu barquinho de jornal,
tal e qual.

E era uma lavadeira,
Meio doida e engraçada,
que foi lavar sua roupa
num lugar assim sem água.
[...] De dentro de sua trouxa
puxou um rio de pano,
O rio saiu pulando
em busca do oceano.

E assim começa a jornada, o barquinho foge para o mar e o menino fica desolado. A lavadeira Elisete pergunta para o garoto o motivo de tanta tristeza, e o menino lamenta a fuga do amigo, e ainda culpa a mulher por ter inventado o rio. Eles resolvem viajar em busca do barquinho...

- Toda viagem é uma festa,
não gosto de levar mala.
Viagem organizada,
pra mim... não gosto, não presta!
- dizia rindo e sorrindo,
andando de patinete,
a doida da lavadeira,
que se chamava Elisete.

E é durante a estrada que vem as maiores lições, como quando a lavadeira diz adeus à sua patinete quando ela se apaixona...

- Tudo na vida é mudança,
Tudo passa em um instante!
- Disse a doida Elisete
beijando a patinete
e seguindo, em despedida,
pelo rio viajante.

Lembrei das sensações que sentia quando minha mãe lia a história... Lembrei das vozes que ela fazia e de quanto minha imaginação voava longe. Lembrei de torcer tanto por um final feliz, porque quando a gente é criança, é tudo o que a gente deseja... E no ápice da história, o menino finalmente encontra seu barquinho:
E andaram mais um pouco,
Um pedaço bem pouquinho,
e encontraram o mar
e sobre o mar... o barquinho!
Ali estava um veleiro,
Seu jornal era esquisito,
Parecia estrangeiro.
Será que aquele barquinho
viajara o mundo inteiro?

E, como toda criança, esperava que o barquinho voltasse para o menino. Mas, não é bem assim que a história termina...

- Anda barquinho, não tarda!
Meu barquinho, olha a hora 
é tempo de vir embora!

[...] Peço perdão, meu menino,
a viagem é meu destino.
Vou dizer uma verdade: 
Sou veleiro e liberdade,
já provei gosto do mar...
Não dá mais, não vou voltar!

Foi aí que o menino
entendeu o ocorrido: 
Mesmo um barquinho dobrado,
que por nós foi fabricado,
não fica pra sempre barquinho.

Contei a história para a turma, confesso que quase chorei. Porque, na verdade, há mais de 15 anos quando minha mãe lia a história para nós, ela não sabia que EU era o barquinho. Que um dia, eu viria me aventurar nos Estados Unidos, e que ela seria o menino, temendo os perigos do oceano. Que eu, o barquinho por ela dobrado, teria coragem de me aventurar pra provar o gosto do mar...

E foi então que eu entendi que Deus se esconde nos detalhes... Em um universo de livros infantis dos anos 90, minha mãe encontrou exatamente este livro, com uma lavadeira que levava seu nome, e uma história que levava o nosso destino. A cada leitura que compartilhávamos, Deus preparava o meu coração e o dela para tudo que Ele já tinha escrito no livro dEle (Salmo 139:16).

É claro que sua história não é igual a minha, mas com a minha história quero dizer para você, caro leitor, que Deus te ama. Que Ele sonhou com você e escreveu cada detalhe de sua história, como a palavra dEle diz no Salmo 139. Quero te dizer que, ainda que você não tenha percebido, o Senhor estava ali por trás dos detalhes da sua vida, escrevendo sua história com letras de amor e graça. Deus não é alguém distante, Ele é um Deus presente, amoroso e detalhista. Ele se revela até em uma história de um pequeno barquinho e sua jornada. Ele é o melhor Autor da história. Deixe Ele escrever a sua história também!

Dedico este post à minha querida mãe, Elisete!
Quer ler a história completa? Você encontra neste link:
 https://docslide.com.br/documents/a-viagem-de-um-barquinho-sylvia-orthof.html

¹ ORTHOF, Sylvia. A viagem de um barquinho. São Paulo: FTD, 1975. 48 p.


Comentários

  1. Esse livro eu li quando era criança, confesso que não lembrava da história em si, mas lembrava da frase [...] Peço perdão, ao meu menino, a viagem é meu destino... Que bom ler sua história e obrigada por me fazer lembrar desse livro. 💜

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